2008-03-05

Luanda no coração


São 5.00 da manhã e ainda não consegui adormecer. Conseguir não é o termo correcto. Não quero!
Estou sentada na janela do meu quarto no Hotel Trópico, em Luanda, a observar a chuva, e recordo a minha infância em Vila Alice. Sinto o cheiro do meu quarto e da terra molhada do jardim de acácias floridas que ficaram guardados numa gaveta secreta do meu coração, sem que se pudessem apagar da minha história.

Hoje, de passagem por esta cidade que me viu nascer, e que abandonei de lágrimas nos olhos, e que mesmo a chorei, durante anos, ao reler o poema, Monangamba de António Jacinto, perscruto a alegoria do nascer do sol, um momento único cheio de magia que só África me pode conceder nas suas cores purpuras.

A emoção enche o meu peito e resvala-se no meu olhar.

Esta terra que deixei há 30 anos continua a ser a minha terra. Serei, sempre, uma caluanda (habitante de Angola) de coração, com o corpo por muitas paragens mas a alma nas minhas raízes ao som das batucadas.

"Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

Deixem-me beber maruvo, maruvo

e esquecer diluído nas minhas bebedeiras "


Texto Publicado na Revista Evasões

Sem comentários: