2008-12-23

LADAINHA DOS PÓSTUMOS NATAIS


Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que o Nada retome a cor do Infinito

2008-11-17


Por vezes, sinto a tua falta.

Não sei como nem porquê!

Sei que o meu corpo sempre o sentiu. Sei que o teu toque ficou cravado em toda a minha pele num arrepio incomparável a qualquer outras mãos que o descubram. Porque te amei, porque te desejei como a mais ninguém na minha vida (até então!).

Ninguém é de todo mau ou de todo bom... e, por vezes, tenho saudades de outras coisas para além do teu corpo e do cheiro da tua pele!

Não há como comparar as pessoas que passam pela nossa vida, porque todas são diferentes, mas não houve outro que lesse as minhas coisas com a emoção que tu lias...

Foi bom. Acabou.

Mas ainda bem que em tempos (já longinquos) passaste e marcaste a minha vida...para sempre, na sua melhor forma!

2008-11-03

2008-10-22

Não Vá Embora

Marisa Monte

Para Sempre


Anexo a isso, sinto um vazio a tomar conta da minha Alma. Sinto que queres partir, que não podes ficar mais a segurar a minha mão, a dar-me coragem para continuar a minha vida sem ti. Hoje, sem a angústia imediata inerente à perda de alguém que amamos, e já com algum domínio sobre o meu raciocínio, que o afastamento temporal do choque inicial nos vai dando, sinto-te calmamente a ires embora.
Mesmo acreditando que possas estar bem, estou a chorar aquela lágrima que bate no chão, e só nós conseguimos ouvir.
Fecho os olhos, e sinto-te abraçares-me com força, beijares-me docemente, e foi então (não sei se ouvi, se sonhei) que murmuraste:

“- Eu não posso voltar, mas quando vieres ao meu encontro, estarei à tua espera, afinal és meu para sempre...”

2008-10-07

2008-10-06

Fado Meu


Chegaste como a alma do vento...

e com suavidade abanaste

as cortinas do momento...


Entendi...

que entravas pois deixei a janela aberta

com cuidado e com vontade


Ficaste

Como quem quer saber

e conhecer a saudade


Com pequenas verdades

te desvendei um pouco a minha cidade,

nas palavras que guardo só para alguns


Não brilhaste

nesse local que te reservei


Mas envolveste-me na tua aldeia de mentiras

criada para mim


E foi assim

que saiste dos meus sonhos...

com duas lágrimas minhas de orvalho

numa noite sem rosto

e sem palavras que nos beijam

2008-10-02

Solidão


Solidão não é a falta de gente para conversar,namorar, passear ou fazer sexo...

Isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausênciade entes queridos que não podem mais voltar...

Isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos...

Isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destinonos impõe compulsoriamente...

Isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...

Isto é circunstância!Solidão é muito mais do que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma."


Chico Buarque
Deve ser por isso, que nunca me sinto sozinha, pois há já algum tempo que encontrei a serenidade e a paz dentro de mim...

2008-10-01

I'm Yours

Esta música é muito alto astral!!!

Jason Mraz

2008-09-22


À beira de um precipício só há uma maneira de andar para a frente: é dar um passo atrás.


M. de Montaigne

Perguntei a um sábio,

a diferença que havia

entre amor e amizade

ele me disse essa verdade...

O Amor é mais sensível,

a Amizade mais segura.

O Amor nos dá asas,

a Amizade o chão.

No Amor há mais carinho,

na Amizade compreensão.

O Amor é plantado

e com carinho cultivado,

a Amizade vem faceira,

e com troca de alegria e tristeza,

torna-se uma grande e querida

companheira. Mas quando o Amor é sincero

ele vem com um grande amigo,

e quando a Amizade é concreta,

ela é cheia de amor e carinho.

Quando se tem um amigo

ou uma grande paixão,

ambos sentimentos coexistem

dentro do seu coração.


Amor Partilhado II


2008-09-19

2008-09-12

November Rain

Guns N'Roses

Saudade é amar um passado que ainda não passou;
É recusar um presente que nos magoa;
É não ver o futuro que nos convida

Pablo Neruda

2008-09-10

Si Hay Dios

Alejandro Sanz

Strong Enough

Cher...é Cher!

Cher

2008-09-09

Marcas


Há pessoas que passam nas nossas vidas e nem damos por elas, outras marcam-nos para todo o sempre e outras não ficam o tempo suficiente para deixar marca, mas ainda assim não deixam de cunhar o nosso futuro.
Há pessoas que nos ensinam que podemos ser melhores, que podemos amar, que podemos confiar, e outras que nos ensinam isso mesmo com contradição, com mentira, com olhares forjados, com jogos extemporâneos e inadaptados...
Todos vivemos experiências destas, mas os ensinamentos que retiramos disso diferem, consoante a capacidade de absorção de cada um.
Há pessoas que nos ferem muito, mas o mais importante é sabermos que aproveitámos o melhor delas, pois continuo a acreditar que ninguém possa ser, somente, mau!
...talvez porque já não deixo que me roubem as cores, as asas do sonho, os sentimentos e o amar a vida!!!
...e talvez porque sou feliz com tudo o que tenho e até com o que não tenho!...e, principalmente, porque gosto tanto de estar comigo, que só aceito estar com alguém se for melhor do que estar sozinha!

Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.


Miguel Torga

2008-09-08

2008-09-01

Afonso

No dia 21 de Fevereiro de 2005, enviava o seguinte email:



Neste momento, vou enviar este email e fazer um shut down ao meu computador durante uns meses, pois vou para casa esperar que chegue a hora do Afonso nascer. Mas queria despedir-me de todos os que fizeram parte do meu dia-a-dia (de alguma forma) e acompanharam o crescimento da minha barriga e da minha aprendizagem enquanto futura mãe.
Um Beijinho grande e até ao meu regresso
Elsa




O tempo passa tão depressa, que hoje, levei o meu filho à escola...


No meio de algum choro, lá o deixei, na certeza que este é um passo importante na sua vida e na sua independência enquanto ser humano.


Não fiquei com o coração apertado, pois sei que o meu menino é capaz de fazer das suas fraquezas, forças e que há-de recordar este momento sem tristeza...




2008-08-29

O meu bebe..

Cresceu e segunda-feira já vai para a escola...esta criaturinha que mudou, radicalmente, a minha forma de ver e amar a vida...



Ivete Sangalo

2008-08-28

Cabron

Red Hot Chili Peppers

Sempre uma das minhas bandas favoritas...

2008-08-27

2008-08-25

Pedras versus diamantes


Aproveito todos os diamantes em que tropeço e tento estar atenta para não os deixar para trás no caminho da vida.

Já me aconteceu tentar lapidar pedras, com esperança de que se pudessem tornar diamantes... Utopia! Não consegui!

Mas, por vezes, encontarmos diamentes que parecem simples pedras, e que quase passamos sem as observar com atenção!

Outras tantas vezes, tive que desistir de sonhos, de alguns "supostos" amigos, ou mesmo de alguns amores, mas agradeço a Deus todos os preciosos e raros diamantes que tenho na minha vida, pois enchem-me os bolsos sem me pesarem e reflectem o sol nos dias sombrios, em que tenho de ir à praia atirar ao mar algumas pedras...

2008-08-21

Sozinho


Há músicas e poemas que serão sempre bonitos...

Caetano Veloso

Carta à minha Sobrinha


Foste o primeiro bebe que eu vi recém-nascido... Lembro-me desse momento como se fosse hoje. Estavas ali, tão frágil...eras a bebe da minha irmã, e um bocadinho também minha!


Senti que tinha que ser um bocadinho responsável por ti, dentro da minha irresponsabilidade do momento!


Sei que sabes e sempre sentiste isso, na forma como olhavas para mim, numa adoração constante, que se vai, obviamente, esbatendo no tempo! Afinal, estás a ficar uma senhora dentro dessa meninice que os teus 8 anos comportam.


Lembro-me, também, no dia que partiste o braço quando estavas comigo, e no horror que se abateu no meu peito ao ver-te sofrer, sem que muito pudesse fazer para o evitar! É assim a impotência dos adultos, perante as circunstâncias incontornáveis da vida daqueles que amam.


Sei, também, que foste a primeira pessoa na vida de quem tive saudades... e que descobri que isso não tinha que ser mau, pois não te perdia mesmo que te não visse, pois o amor que sinto por ti está sempre muito bem guardado no meu coração e para todo o sempre! A partir daí, já tive saudades de mais pessoas, mas aprendi esse sentimento contigo!


O primo jamais roubará o teu espaço! Sei que ele ocupa o espaço mais especial e mais altruísta do meu coração, mas sei também que ja´tens idade para ler o meu blog e perceberes que todas estas minhas palavras hoje...são para ti.


Adoro-te!
A tia
Elsa

Relações


A vida é feita de relações
Com os pais, com os filhos, com os amigos
E com outras pessoas que se cruzam connosco
E que vão moldando e talhando
as nossas características, enquanto seres humanos...
Embora existam especificidades incapazes de ser alteradas...

Já amei, já sofri, já chorei perdas
Mas sempre irei amar intensamente
todos os momentos da vida:
O sorriso do meu filho, um mergulho no mar,
Um abraço sincero, ou, simplesmente,
Uma música que só nós ouvimos ao acordar...
E que podemos optar por não a escutar ou

Por deixar que ela nos inebrie por toda uma vida!

Better in Time

Leona Lewis

2008-08-16

The Story

Brandi Carlile

2008-08-15

Aos meus AMIGOS

Aos meus amigos que adoro
e aos quais nunca fiz AQUI nenhum tributo

E que têm estado sempre a meu lado
nos bons e nos maus momentos
SEMPRE

Tenho a sorte de os ter «escolhido» bem
sem saber que iriam acompanhar me a vida toda

Sou grata por todos os momentos de cumplicidade que vivemos
por todas as discussões que tivémos
e que fortaleceram a amizade

É bom saber que vocês existem
E que amanhã nos encontramos
e nos rimos ou choramos juntos
ou dizemos os disparates de sempre
que nos acompanham no tempo

Adoro-vos e vocês sabem que sim
Pois não me canso de o repetir
a cada vez que sinto necessidade

E esta foi uma delas...

2008-08-12

Metallica

O teu sorriso


Não sei porque o teu sorriso me faz bem

Não entendo porque ocupas espaço nos meus dias

Não sei como entraste neles, mas sei que gosto

de todos os momentos contigo


Sei o que quero

E o que não quero


Chegaste num momento em que contrarias

todas as probabilidades do meu querer
Mas não me apetece resistir

a poder ver o teu sorriso mais uma e outra vez....

2008-08-08

Hoje sei


Hoje sei que não comando o destino

Que a vida foge da orientação que lhe imprimimos

E que nem sempre isso é mau...


Hoje sei que quando quis ser feliz não consegui

E que quando não pensei nisso fui ao

encontro dela...


Hoje sei que valeram a pena todos os amores e desamores

Que foram importantes todas as traições de amigos

e todos os dias investidos em desilusões.


Hoje sei que embora haja muita coisa que não sei

Sou feliz com tudo o que tenho, e com o que não tenho

Porque me encontrei e

Porque aprendi a rir com a alma

e a chorar com o coração


Hoje sei...que não sei quando a vida pode fugir

mas que isso não me importa

pois o caminho até lá valerá sempre a pena!

2008-07-24

You and I

Scorpions

2008-07-21

Natureza viva


O vento sopra
As folhas mexem-se lentamente

O mundo não pára
Se eu estiver triste
E essa é uma certeza
Que não me esmorece

Sei que a lua está prestes a desaparecer
No horizonte,
Mas que amanhã o sol, novamente,
Brilhará num céu azul ou nublado

Sei que mesmo que o não veja
Ele estará sempre lá
A contemplar a vida na Terra
Que não se esgota

Amanheceu e eu acordei com a sua luz.
Após uma noite, entre tantas outras,
mal dormidas.

Hoje o meu coração cheio de alegria
Confere que a natureza permanece inalterada
Ao meu estado de espirito.

Então, seguro as asas do sonho
E voo por novas paragens
Onde o sol e a lua me olham com a
Indiferença de estranhos
Mas onde a minha Alma
Continua tranquila
Longe de momentos
Que ma afastaram da visão da minha quimera

Voo, agora, capaz de alcançar os astros
Na minha transparente verdade
Num mundo de todas as cores

É isso aí

Ana Carolina e Seu Jorge

Porque há musicas que nos tocam em qualquer idioma, mesmo antes de nos marcarem um momento!

2008-06-20

Sonhos


Quando me roubaste os sonhos

Faltou-me o chão

Faltou-me o ar

E foi difícil recomeçar


Largaste-me em mar aberto

Onde nunca desisti

Nadei incessantemente

e sobrevivi


O mar ardeu-me nas feridas

enquanto as cicatrizava

Agora, recém-nascida

Com a vida que me aliciava


Parti numa aventura sem limites

de descoberta e de amor

Deixei para trás sem rancor

Um passado infeliz

Mas do qual não me envergonho


E, hoje, ninguém me rouba o sonho





2008-06-05

Gaiola de Vidro



Como paredes através das quais
o mundo vemos pelo ser dos outros,
quem vamos conhecendo nos rodeia,
multiplicando as faces da gaiola
de que se tece em volta a nossa vida.


No espaço dentro (mas que não depende
do número de faces ou distância entre elas
nós somos quem nós somos: só distintos
de cada um dos outros, para quem
apenas somos uma face em muitas,
pelo que em nós se torna, além do espaço
uma visão de espelhos transparentes.


Mas o que nos distingue não existe.

Jorge de Sena

2008-06-04

Stillness Of Heart



Lindo! Lindo! Lindo!

Lenny Kravitz

2008-05-27

A matéria do Poema


Se o sol se atravessa no caminho de um homem,a luz pode empurrá-lo para o sonho.

Então, fecha os olhos; espera que as imagens se apaguem do seu horizonte; e entra no vazio que a treva lhe oferece.

O sol, porém, continua a brilhar.

E ele insiste em manter os olhos fechados.

Anda, com passos hesitantes, num caminho de luz; as mãos procuram um apoio na sombra que não encontra.

E quando volta a abrir os olhos, os sonhos continuam à sua frente, como se fizessem parte do seu destino.


Nuno Júdice

2008-05-13

2008-04-01

Viagens


Levantar âncora e entrar mar adentro é uma sensação que me desperta sentimentos díspares, dependendo do contexto da viagem. Existe sempre o ir, e por vezes, o voltar.
Quando rumo à descoberta de um novo local no inicio de umas ferias, abarcam-me sentimentos inigualáveis de felicidade.
Adoro poder afastar-me para explorar ou desenterrar emoções no desconhecido, vendo desaparecer o meu porto (sempre) seguro no horizonte.

No regresso, enfrento o mesmo mar, mas com outras ondas (nunca navegamos as mesmas águas). É nesses momentos que a melancolia toma conta de mim, e o pôr do sol traz a noite com menos brilho.
Sei que novas viagens estarão para vir, e que o céu ou o mar esperarão por mim até outra partida.

É a alegoria da vida: abandonamos portos, regressamos a casa (é sempre bom ter um lugar para voltar), enfrentamos tempestades ameaçadoras e mares crespos, mas teremos sempre vontade de partir novamente, mesmo sabendo que a bruma poderá esperar por nós em cada desembarque.

2008-03-13

Patrick Swayze

Li que o actor do Dirty Dancing está a morrer. Ele que marcou a minha adolescência, assim como a de outras tantas miúdas da minha idade.

Aqui fica o tributo.

Wherever you will go

The Calling

2008-03-07

O meu bebe

O meu bébé está a crescer.

E está quase a fazer 3 aninhos.


É bom vê-lo crecer!


E quando penso que é impossível gostar mais ainda daquela criaturinha linda e tão terrorista, eis que este sentimento se apresenta com contornos inegualáveis.



Gosto tanto de ti, filho!

E ainda me emociono quando te vejo a dormir tranquilamente ou quando me dizes: "Adoro-te mãe!" e me dás um daqueles beijos que vou guardar para sempre trancados no meu coração...

Estranha em mim

Numa momento em que a violência marca a actualidade...

Este foi um dos filmes que me marcou, por o sentir tão real e possível: qualquer um se pode tornar um assassino, seja qual for a razão que o impele!

2008-03-05

Luanda no coração


São 5.00 da manhã e ainda não consegui adormecer. Conseguir não é o termo correcto. Não quero!
Estou sentada na janela do meu quarto no Hotel Trópico, em Luanda, a observar a chuva, e recordo a minha infância em Vila Alice. Sinto o cheiro do meu quarto e da terra molhada do jardim de acácias floridas que ficaram guardados numa gaveta secreta do meu coração, sem que se pudessem apagar da minha história.

Hoje, de passagem por esta cidade que me viu nascer, e que abandonei de lágrimas nos olhos, e que mesmo a chorei, durante anos, ao reler o poema, Monangamba de António Jacinto, perscruto a alegoria do nascer do sol, um momento único cheio de magia que só África me pode conceder nas suas cores purpuras.

A emoção enche o meu peito e resvala-se no meu olhar.

Esta terra que deixei há 30 anos continua a ser a minha terra. Serei, sempre, uma caluanda (habitante de Angola) de coração, com o corpo por muitas paragens mas a alma nas minhas raízes ao som das batucadas.

"Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

Deixem-me beber maruvo, maruvo

e esquecer diluído nas minhas bebedeiras "


Texto Publicado na Revista Evasões

2008-02-29

Ternura

Isabella Tavini

2008-02-27

A noite do dia


O meu dia amanheceu de noite

Quando o dia levaste na noite que partiste


O meu olhar ficou triste

A minha tez perdeu a luz

Até ao dia em que a noite ao dia fez juz


E nos dias vindouros em que o sol me seduz

Revivi a alegria

E ganhei a doçura

Que há muito não via


Escolhi as noites escuras após a tua partida

Aos dias cinzentos com a tua amargura

Para reencontrar a vida com tons de ternura


2008-02-15

2008-02-11


Morre lentamente quem não viaja, quem nao lê, quem não ouve musica, quem destrói o seu amor próprio, quem nao deixa ajudar.Morre lentamente quem se transforma escravo do habito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem nao muda as marcas do supermercado, nao arrisca vestir uma cor nova, nao conversa com quem nao conhece.Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.Morre lentamente quem nao vira a mesa quando esta infeliz no trabalho, quem nao arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de inicia-lo, nao perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade


Martha Medeiros

2008-01-31

DEFICIÊNCIAS

'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. 'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui. 'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. 'Surdo' é aquela que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. 'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. 'Paralítico' é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. 'Diabético' é quem não consegue ser doce. 'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: A amizade é um amor que nunca morre.

Mário Quintana

Será



Pedro Abrunhosa

Para ti




Sei que nunca partiste


Porque nunca aqui estiveste


Jamais te entregaste a este


ou a outro Amor




Não me importo


Eu vivi-o da forma mais pura e intensa


Que alguém possa imaginar




Mas, hoje, outro corpo adormecido e exausto


pairava a meu lado num campo neutro


de paixão de corpos, e de almas dormentes




Revivi cada caricia tua


Nas mãos de outro homem


E, incessantemente, procurei a tua pele


descobrindo o teu cheiro


que a minha memória não quis apagar




Guardo o teu abraço,


o teu beijo,


o cheiro da tua pele


E todas as gotas de suor do amor que tive e fiz contigo




Apaguei as tuas ofensas e as palavras mais duras


E tenho-te trancado nas minhas memórias mais seguras




2008-01-22

2008-01-18

Ao meu pai


Lembro-me do dia em que adoeceu como se fosse hoje, e creio que terei esse registo sempre presente. Embora o meu pai não tenha melhorado muito, nós aprendemos a conviver e a aceitar a situação como nos foi sendo possível, através de uma longa e demorada aprendizagem de ambas as partes, algumas vezes dolorosa mas ainda assim sempre activa.
Nesse tempo ainda vivia com os meus pais, e recordo-me de sentir algum alvoroço no quarto deles, senti que a minha mãe estava a falar desordenadamente e num tom alterado. Recordo-me de ter saltado da cama, mas estar longe de imaginar o que estaria a acontecer. O meu pai estava deitado no chão, tinha caído aquando tentava sair da cama, e não mais se conseguiu levantar. Não se entendia nada do que dizia, estava com a voz imperceptível, tinha a boca e a facis deformada, rapidamente, entendemos que estava sem qualquer sensibilidade do seu lado direito.
Enquanto a minha mãe tentava decifrar o que estava a acontecer e tentava ajudá-lo, corri para o telefone a chamar uma ambulância.

Quando a ambulância partiu com o meu pai e a minha mãe, fiquei encostada à soleira da porta, a tentar que o chão não me fugisse, todos sentimos que algo de mal se estava a passar, ainda que não entendêssemos muito bem o que seria um AVC, ou pelo menos, que não soubéssemos as sequelas daí provenientes.
Comecei a rezar a Deus para ajudar o meu pai, não sei se por ele, se por mim, se por todos nós, afinal, ele era uma peça fundamental do puzzle da nossa família.
Aquela espera parecia-nos infindável, a minha mãe telefonava sempre que podia e trazia-nos a noticia que o meu pai estaria estável, mas enquanto não pudéssemos estar com ele a nossa angústia iria persistir. Afinal, o que quereria dizer “estável”?
Durante horas, a minha mãe manteve-se incontactável e eu e a minha irmã estávamos muito nervosas.

Estava habituada ao colo do meu pai que estaria incapaz de mo dar e quem sabe a precisar dos meus mimos...

Uma das imagens que guardo, foi quando a minha mãe chegou: sozinha, com um saco transparente, onde se podia ver o pijama do meu pai, assim como os seus chinelos, o seu robe, e na mão trazia a aliança dele. Temi pelo pior, mas não consegui dizer nada, notei que a minha mãe tinha estado a chorar, mas que tinha bebido uma dose excessiva de calma, para nos conseguir transmitir tudo com tranquilidade, de forma a não entrarmos em pânico.
Queria ter coragem para lhe perguntar se o meu pai tinha morrido, mas nem conseguia verbalizar tal pensamento, ficava preso na garganta como um nó. Rapidamente a minha mãe descodificou um pouco as nossas trocas de olhares, dizendo que o meu tinha de ficar internado, estava com a tensão arterial muito elevada, e nem os famosos comprimidos sublinguais, a que o meu pai nos tinha habituado a vê-lo usar com alguma frequência, o tinham ajudado neste dia. E foi assim que repetiu o AVC na urgência do Hospital de S. José. Foi nesse momento, há alguns anos atrás, que a nossa vida mudou.
Aquele nó na garganta estava cada vez maior.
À noite, cerrei os olhos com força mas não consegui desprender-me da realidade para que pudesse adormecer. Estava em sobressalto e ouvia o eco da voz da minha mãe a perguntar ao meu pai o que estava a acontecer, porque ele tinha caído, etc., como se tudo se estivesse repetir. Recordava-me da minha mãe com as duas alianças no dedo, e tudo aquilo ganhava dimensão no meu coração e ocupava-o com angústia.
Quando o cansaço estava prestes a vencer-me tocou o telefone, e o meu coração disparou, quando ouvi ser do Hospital o medo percorreu-me o corpo e fiquei estática à espera de ouvir o que teriam para me dizer. Informaram-me da transferência do meu pai para o Hospital de Sta. Marta, e não me adiantaram mais nada.
E eu tinha tantas dúvidas, queria tanto esclarecê-las para poder adormecer, queria tanto poder ir ao quarto e encontrar lá o meu pai, dar-lhe muitos beijos, e deitar-me a seu lado enquanto víamos os programas do Nathional Geographic. Mas ele não estava, estava algures numa maca, ou numa cama de um quarto de hospital, rodeado de estranhos, sem se conseguir mexer ou expressar, e essa imagem martirizava-me o espirito.
Aguardámos ansiosas pelas 15 horas para que o pudéssemos visitar, mas os minutos não passavam, a ansiedade não controlava os ponteiros do enorme relógio pendurado na parede da sala de espera das visitas. Porque é que ninguém nos vinha dizer nada? Explicar como o meu pai estava, ou prevenir-nos para não sermos apanhadas de surpresa, do estado em que o iríamos encontrar. Sentíamo-nos perdidos naqueles corredores brancos.
As visitas começavam a aproximar-se da porta onde estava uma senhora de bata branca, que distribuía umas senhas mediante um número que se dava, que correspondia ao da cama do doente.
Ficámos para o fim, pois a única informação que tínhamos seria a do nome do meu pai, para que nos dissessem tudo o resto. Aproximámo-nos. A minha mãe disse o nome do meu pai.

“- Cama 22, mas só poderão entrar duas pessoas.”

Seria tão complicado entender que éramos três e que estávamos desesperadas na ânsia de o poder rever. Pensei que preferia que fosse a minha irmã

"- Até te agradeço que vás na frente, pois falta-me a coragem, sinto as pernas trémulas. Vai, mas não demores muito, traz-me notícias do pai, de preferência boas, e diz-lhe que estou aqui, que tenho saudades dele e que entro de seguida para o abraçar e lhe dar muitos beijos.”

Fiquei a observá-las a desaparecerem nas portas, conseguia ver o ar assustado com que procuravam a porta do quarto que tivesse a indicação do número da cama do meu pai, o 22, aquele número ficaria a martelar para sempre na minha cabeça. Reparei também, que a minha mãe tinha os ombros caídos do cansaço ou do receio. Ela tinha sido a única que o viu quando ele piorou, e sabia como o deixara. A minha irmã saiu minutos depois, de cara meio enfiada, e deu-me a senha.

“- Não me deixes neste sufoco e diz-me como é que ele está...

- Está mal, Elsa. Não entendo nada que ele diz, não me conheceu, acho que até está... desfigurado. Vai lá, miúda, pode ser que a ti, ele te reconheça.”

Tinha razão. Ainda não tinha entrado quando vi a minha mãe, sentada ao lado da cama a segredar-lhe algo. Com alguma dificuldade rodou a cabeça, e pude confirmar o que a minha irmã me tinha dito. O meu pai tinha a boca toda arrepanhada dum dos lados, e abria muito os olhos na tentativa de conseguir ver alguma coisa. Percebi que estava de fralda e algaliado. Quando tentou murmurar alguma coisa pouco perceptível, percebi que tinha a voz completamente atrofiada, e rapidamente percebi que o seu cérebro seria o mais afectado, mais que os seus músculos que não respondiam aos estímulos.
No fim de algum esforço em tentarmos compreender o que nos tentava dizer, percebi que estava a perguntar quem eu era. Tentei-me controlar, mas não consegui, saí para o corredor, onde estive a chorar. A minha mãe veio ao meu encontro na tentativa de me consolar. Sabia que nós tínhamos uma relação muito próxima, e que estava a ser muito difícil para mim. Tentei encontrar alento nas palavras da minha mãe.

“- Já entro, deixe-me ficar aqui um pouco, a recuperar o fôlego e alguma serenidade.

- Está bem, querida. Eu sei que te está a custar muito, mas sei também, que és muito forte e que és capaz. Sei também que o teu pai precisa de todos nós, e que vamos lá estar. Não é?

- É.”

Fiquei a olhar para o jardim interior do Hospital, reparava na quantidade de doentes que passeavam ali com os seus familiares. A maioria deles arrastava o lado direito. Um dia, o meu pai estaria assim, mas naquele momento que vivíamos nem se conseguia levantar, mesmo que tivesse vontade, o seu corpo estava “morto” e o seu raciocínio lento e perturbado.
Regressei ao quarto. A minha mãe disse-lhe ao ouvido quem eu era, e ele perguntou-lhe porque é que eu estava a chorar...não conseguiria entender a minha resposta, mesmo que tivesse esperado por ela.
Curiosamente nunca se esqueceu da minha mãe. Todos os dias repetia as mesmas perguntas, todos os dias lhe relembrava o meu nome, e o nosso parentesco, e ele todos os dias se esquecia.
Mas quando começou a recuperar a fala, contava-me como passava as horas que estava sozinho, fazendo grandes dissertações sobre os seus companheiros de quarto. Podia não saber que eu era sua filha, mas gostava de falar comigo, e isso trazia-me algum conforto. Era um exercício complicado tentar entender o que me dizia, mas nunca desisti, pedia-lhe para falar mais pausadamente para que não se enrolasse tanto. E ele explicava-me o que tinham sido as suas refeições, o que tinha feito durante a noite, etc. Tudo era fruto da sua imaginação, fazia-me relatos de Angola; das suas refeições, que não eram nada mais que comida passada e sopas com espessantes (dada a sua má deglutição), na sua descrição seriam sempre manjares extraordinários, compostos por tudo que ele verdadeiramente gostava.

O mundo dele e o nosso, dois mundos diferentes e distantes, que se reencontravam três horas por dia quando nós abandonávamos o nosso e entrávamos no dele. Chego a acreditar que terá sido melhor assim, para que ele alheado não sofresse tanto com a certeza que lhe estava atribuída. Quem sabe não foi uma defesa natural da percepção ao estado do seu corpo?


Sabes Pai, foi há 17 anos que tudo isto aconteceu, e ainda não consegui esquecer essa data de Agosto de 1991 em que essa doença maldita te roubou de mim tal como eras. Agradeço a Deus por estares, ainda, comigo. E, desculpa, se tantas vezes tenho saudades daquilo que eramos, por que me fazes falta.

À minha avó Antónia

A minha avó era uma pessoa linda, com pouca riqueza material, mas com um espírito repleto de grandeza, guardava nele toda a sabedoria duma vida traduzida em amor e espiritualidade.
Lembro-me que sempre que a visitava, há uns anos atrás, ela ficava a acenar-me um doce adeus na esquina de sua casa. Era uma grande mulher em todos os sentidos. Lembro-me que quando criança achava que ela era enorme, de acordo com a evolução natural da vida, fui crescendo e ela tornou-se mais pequenina do que eu, mas nem notei. Para mim, ela continuava com a sua mão enorme e marcada da enxada, a perder a rudez dos seus actos em cada adeus e em cada beijo que me dava. E continuava tão grande!
A doença foi tomando conta do corpo dela, e os seus acenos passaram para a janela da sala, depois para a do quarto, e mais tarde para o hospital até deixar de acenar, e sermos nós que nos despedíamos dela. Mas não a vi minguar, pois conhecia-a desde sempre e mantive essa imagem. Guardei todos os seus “adeus”, e esqueci-me do último pois não consigo ou não quero lembrar.

Ódio

Ódio por Ele? Não ... Se o amei tanto,

Se tanto bem Ihe quis no meu passado,

Se o encontrei depois de o ter sonhado,

Se à vida assim roubei todo o encanto,


Que importa se mentiu?

E se hoje o pranto

Turva o meu triste olhar, marmorizado,

Olhar de monja, trágico, gelado

Com um soturno e enorme Campo Santo!


Nunca mais o amar já é bastante!

Quero senti-lo doutra, bem distante,

Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,

Mágoa de o ter perdido, amor ainda!

Ódio por Ele? Não... não vale a pena ...


Florbela Espanca

2008-01-11

What I've done


Linkin Park


Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procurado seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a crescer
nós parámos o tempo
não sabemos morrer e nascemos do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu pássaro cinzento
A chorar a lonjura do nosso afastamento
Meu amor meu amor
meu nó de sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
Este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.


Ary dos Santos


2008-01-09

Para Sempre

Passagem de um livro que gosto de reler...


“Rita,

Já entendi que não me queres ouvir e que optaste por não responder às minhas mensagens, ou aos meus telefonemas. Estás magoada, eu sei.
Ainda pensei esperar-te à porta de casa, mas ponderei, e percebi que não podia impor a minha presença. Quando nos reencontrarmos será de mútuo acordo, e de assumida vontade de ambos. Também, não impuseste a tua presença quando eu precisei sair. Simplesmente deixaste-me seguir a minha vontade.
Mas tenho estado a pensar na nossa história, e por defeito de convivência contigo a escrever um esboço dos meus pensamentos. Espero que os leias, que não os rasgues antes de os tentares entender.
Ao olhar para ti pela primeira vez, não imaginava o mar de sentimentos em que a minha vida iria mergulhar.
Também, penso, que não era suposto que acontecesse.
Sabes bem, que nunca mergulho sem botija, ou pelo menos sem uma boa golfada de ar...
Não te imaginei minha, pelo menos não logo, nesse primeiro olhar.
Deixei-me cativar pelo teu ser, que me proporcionou bem-estar e foi transformando os meus dias. Pela tua alegria contagiante. Por essa tua força interior, que sensibiliza e conforta.
A esse encanto não pude resistir, de tal maneira, que me deixei ir pelo embalo.
Foi bom. Experimentei uma sensação única. Pela primeira vez não conquistei, mas também não me senti conquistado, não gosto de o ser. Deixei fluir e apercebi-me como podia ser diferente, gratificante.
Até que cheguei a esse oásis, e tomei consciência que dele não queria mais partir. Senti-o tão intensamente...como se de repente, tudo à minha volta se tornasse num deserto imenso e inóspito.
Parecem voláteis os sentimentos...
Nunca imaginei que deixasses de gostar de mim. Para falar a verdade, esse sentimento atemoriza-me.
Comecei agora a entender outras perspectivas dessa relação que entretanto se foi solidificando. Confesso que cheguei a pensar que o nosso desejo era desigual, mas de qualquer forma inabalável. Que independentemente do que pudesse acontecer, nada o iria fazer mudar.
Enganei-me. Deixei de te olhar nos olhos, da mesma forma que o fazia em momentos de paixão. Ainda assim, seguia sem questionar algo que para mim se foi confirmando, de dia para dia como uma certeza, mas muitas vezes e por força das circunstâncias, menos sentida. Só agora percebo que essa inevitabilidade pode ser a nossa maior inimiga.
E num clique, tudo muda?
Não sei, mas para mim mudou. Mudou para muito melhor. Sinto-o assim. Fizeste-me senti-lo. Cheguei a estar adormecido, apenas com a noção que éramos dois a seguir um único caminho, que a pouco e pouco se vai sulcando pelo destino.
Deixei de sentir essa inevitabilidade. E à custa de quê?
De imperfeições que nos atormentam, mas das quais não podemos, muitas vezes, fugir. Do egoísmo que não conseguimos, em tantos momentos, ultrapassar. Agora, deixei de me sentir acomodado.
Muitas vezes não é tranquilo, chega mesmo a ser difícil, mas ainda assim, faz-nos tomar consciência da sorte que, de um momento para o outro, nos bateu à porta.
Volta para mim.
Do teu sempre,
Diogo”

Fiquei a ler a tua carta. Tinha o teu cheiro. Conseguia entender muita coisa, outras esforçava-me para perceber e não conseguia.
Senti que nos envolvemos da mesma forma, que compartilhámos o mesmo sentimento durante muito tempo, até ter mudado a tua forma de olhares para mim. Sentiste-me de outra maneira, algo mudou, mas não mo disseste, preferiste sair de mansinho, deixando-me a tua ausência e a minha forma de te amar, que não se alterou.
Ganhaste consciência da sorte que te bateu à porta, quando bateste a da minha casa, virando-me as costas? Deixaste de te sentir acomodado ao teu egoísmo e às tuas imperfeições, quando te afastaste? Achas que me acho perfeita? Que não sou minimamente egoísta? Pois digo-te que sou, tenho consciência disso e luto todos os dias para que isso não agrida terceiros, só que ainda assim, não me preciso afastar de ti para ganhar noção de todos estes itens .
Não foi o destino que foi sulcando o nosso caminho, fomos nós. Assim como foste tu que escolheste sulcar outro longe de mim. Eu sigo o meu trilho e tu segues o teu.
“Não te imaginei minha, pelo menos não logo, nesse primeiro olhar.”, nem eu. Não pensei que algum dia me pudesse sentir de alguém, sentir que a minha vida me pertence mas também te pertence. Sabes o que me aconteceu quando saíste repentinamente da minha vida? Parafraseando-te, tiraste-me a botija, e nem me deste tempo para eu conseguir uma boa golfada de ar....fiquei sem respirar, a lutar para não me afogar, para que os meus pulmões não se enchessem de água, para que pudesse sobreviver ao maremoto que provocaste. Poderia responder-te com todos estes meus pensamentos, mas não o vou fazer, tal como tu não o fizeste quando mudaste a tua forma de me olhares e resumiste tudo num “não sei se te amo”. Não é vingança, não é mesquinhice, é apenas a resposta ao teu apelo de “Volta para mim”. Não, não volto, porque o meu trilho agora ruma a outro destino, vou-o sulcar sozinha, ainda a recuperar o fôlego do ar que me roubaste.

2008-01-07

Intemporal e arrepiante

Emma Shapplin

Bolo-Rei

Ontem, foi Dia de Reis e, embora não tenhamos a tradição do país vizinho em celebrar o 6 de Janeiro, ainda mantenho a tradição de comer bolo-rei nesse dia.
Engraçado é o facto de eu não apreciar o dito bolo, mas ainda assim não desistir de o comer mesmo que retire todas as frutas cristalizadas...

Este ano recordei a fava e o brinde que desistiram de colocar dentro do bolo, e senti saudades desse tempo... da felicidade que tomava conta de mim quando mordia um pouco de papel vegetal que embrulhava um corno, ou uma figa que alguns dias depois jazia no balde do lixo.
Quando me calhava a fava e ninguém via, voltava a "espetá-la" dentro do bolo, adorando a sensação de poder ver quem cortava a fatia seguinte (garantidamente, não era eu!).

Acho que é por isso que continuo a comer um bolo que não gosto.
Quebrou-se a fantasia de poder ter em minha casa reunida toda a minha família em dias especiais, pois a vida vai separando alguns, mas os sonhos e as recordações ficam sempre num porto seguro longe do roubo das fantasias... quem sabe, guardados em papel vegetal num bolo que é só meu!