2007-08-01

Moçambique


O avião aterra.
Desço as escadas e ponho os pés na cidade que me viu nascer e da qual não guardo memória.
O cheiro a terra quente molhada é me familiar.
Abandonei Moçambique em criança e muitos anos depois, ainda, me sinto em casa.
Percorro as ruas de carro enquanto observo crianças que tomam banho em pequenos charcos que a chuva arquitectou, mas que o sol abrasador que já espreita ousa evaporar.
O lixo acumula-se porque não há recolha, e o cheiro nauseabundo, por vezes, torna-se insuportável.
Assomo-me do centro de Maputo, e em plena Avenida Julius Nyerere, perscruto todos os edifícios recordando-os de fotografias do álbum de recordações e das histórias contadas em jantares de família. Tudo está na mesma com trinta anos de desgaste e falta de manutenção.
Sou alertada para os cuidados a ter para lidar com os locais. Oiço todas as recomendações. Mas sou apenas mais um deles, e no meio de tanta coisa má, aquela cidade é linda e ficaria ali para o resto da vida a descortinar a panóplia de cores e cheiros que me estimula os sentidos. No regresso trago comigo o sabor do caranguejo, o som das marrabentas, a pele queimada, e a saudade daquela gente maningue chunguila...
Carta premiada na Revista Volta ao Mundo

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