2007-07-05

Aborto


Ponho a mão no meu ventre
E ainda não se sente
Queria muito ter tempo para te amar
Queria te poder explicar

Saio de casa sem convicção
Correndo para não pensar
Entro no consultório
Ainda que a hesitar

Perguntam-me: “Tem a certeza?”
E eu choro a amarga tristeza
Perguntando-me porque vim
Somente, digo que sim

Entro e visto a bata
Tentando manter a firmeza
Num espaço que me mata
E ao qual me sinto presa

Tudo acabou em minutos
Nunca me irei perdoar
De não sentir os teus chutos
Ou ouvir o teu chorar

E desta sala tão fria
Saio sozinha e sem ti
Que te amava eu não sabia
Só, agora, que te perdi

Mas não há como voltar
Pois, neste momento, estás morto
E viverei com a culpa
De ter feito o teu aborto

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